AVASSALADORAS RIO - SURRA DE GRAVATA é a coluna quinzenal de ANDRÉ FERRER

AVASSALADORAS RIO - SURRA DE GRAVATA é a coluna quinzenal de ANDRÉ FERRER
Segundo André Ferrer "Amarelas e medrosas" é uma tentativa de "ser menos ranzinza e um pouco mais lírico".

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Ode a Arthur


- Arthur como fazer as pessoas me entenderem?
- Impossível, minha cara, sentimentos tem a dimensão das nossas alegrias ou angústias, apenas das nossas.
- Isso me aflige, foram dias de horror, de pensar nela, perdida na mata, à mercê do improvável. Recordava-me, lembro com exatidão, do seu corpo pequeno, seus olhos assustados, cheguei a vê-la maltratada pelo frio, pela fome, tão perdida...
- Mesmo assim, fugiu de você. São assim todos dessa espécie. Cautelosos e arredios, assustados com aquilo que não compreendem e fogem por isso, ainda que a solução esteja a um passo deles. São como nós e contém nossos medos e mistérios, por isso tantos os rechaçam.
- Eu bem os compreendo, só lamento que os da minha espécie – quase todos – não realizem que meus sentimentos, embora tolos pareçam, merecem respeito, pois me atingem, me machucam. Invoco para isso a compreensão pela solidariedade, mas nem isso obtenho.
- Tome como lição jamais esperar do outro a atitude que você busca como amparo ou a que teria para doar. Dói menos esperar pouco dos nossos, o egoísmo faz parte da nossa essência.
- Vou aprender mais essa, na verdade já deveria ter aprendido, são anos viajando por estradas lúgubres e caminhos acidentados. Meus pés estão calejados, é necessário calejar a alma.
- Faça-o imediatamente. Qualquer aprendizado só tem valor quando nos protege de reincidir nos erros.

Assim travei um diálogo imaginário, nem por isso menos proveitoso e eloqüente, com Arthur da Távola. A despeito do quão louca possam me rotular, foi um desabafo solitário de quem resgatou – depois de 10 dias em franca agonia – sua gata persa. Mais alguns dias ela teria morrido e eu me esfacelado em tristezas ímpares e várias.

Terminada a profícua conversa com ele, reli seu artigo “Ode ao gato”, buscando entender o amor e fascínio que esses animais me provocam. Adormeci embalada pelo ronronar da Annouk e minha inquestionável loucura. Internem-me, façam-me objeto de estudo, não me importa. Desde que eu possa levá-la comigo.


CARMEN BENTES

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

VISIBILIDADE EMPRESTADA

“O sertão é um espaço de memória confundido com o urbano. É o melhor lugar do mundo para acessar a Internet, porque as Lan Houses cobram apenas cinquenta centavos por hora. Galileia trata dessas idas e vindas, mergulhos e retornos nesse mundo suburbano chamado sertão. (Ronaldo Correia de Brito)”

“Eu confiava no meu livro, mas sem expectativa”, declarou o romancista Altair Martins, um dos ganhadores do Prêmio São Paulo de Literatura. “Sou autor de pouca visibilidade”, prosseguiu ele, que leciona literatura em Porto Alegre e tem 34 anos. Mais visível do que nunca, Martins também revelou ter feito uma aposta com o outro vencedor antes da divulgação do resultado. Caso um dos dois ganhasse, pagaria o jantar do outro.

Ronaldo Correia de Brito, escritor cearense, foi o outro vencedor da segunda edição do Prêmio. Seu romance “Galileia” (editora Alfaguara) é o melhor livro do ano. “A Parede no Escuro” (Record) deu o título de melhor autor estreante ao professor gaúcho. Brito e Martins, com ou sem troca de jantares, ganharão R$ 200 mil cada um.


A categoria de melhor livro do ano teve
dez nomes concorrentes; autores como José Saramago (“A Viagem do Elefante”), Moacyr Scliar (“Manual da Paixão Solitária”) e Milton Hatoum (“Órfãos do Eldorado”). Entre os finalistas estreantes no romance, também dez, concorreram o psicanalista Contardo Calligaris (“O Conto do Amor”) e o professor mineiro Marcus Freitas (“Peixe Morto”).

Brito nasceu em Saboeiro, sertão dos Inhamuns, no Ceará, em 1 de outubro de 1950. Mora em Recife desde os 17 anos. É médico formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Pesquisador, produziu vários textos sobre literatura oral e brinquedos de tradição popular e, em 2007, foi escritor residente e professor visitante da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Escreveu os livros de contos “As Noites e os Dias” (1997), publicado pela Bagaço, “Faca” (2003), “Livro dos Homens” (2005) e a novela infanto-juvenil “O Pavão Misterioso” (2004), todos publicados pela Cosac Naif. É autor, ainda, das peças de teatro “Baile do Menino Deus”, “Bandeira de São João” e “Arlequim”. Por sete anos, Brito escreveu a coluna Entremez, da revista Continente Multicultural (Recife). Atualmente, assina uma coluna semanal na revista Terra Magazine, do Portal Terra.


Durante entrevista coletiva, Brito afirmou que “desejava” o prêmio, mas não o esperava. “São Paulo é importante para mim, você nem imagina. É uma espécie de destino para todo nordestino.”


“Quando lancei As Noites e os Dias, em 1997, pela editora Bagaço, o poeta Alberto Cunha Melo escreveu que meus personagens são complexamente urbanos e habitam um sertão sem endereço certo, que pode estar em qualquer latitude”, disse Brito em junho na ocasião do lançamento do romance premiado. “Em Galileia (LEIA UM TRECHO DO LIVRO), os primos Davi, Ismael e Adonias procuram reconstruir suas vidas na Noruega, no Recife e em São Paulo, longe do sertão em que nasceram. Por mais que eles tenham se distanciado da violência que ronda a família, voltarão a senti-la de perto, descobrindo que nunca escaparam ao destino que os cerca. O sertão tanto pode significar um espaço mítico como um acidente geográfico. Santo Agostinho perguntava sobre o tempo: o que é o tempo? Se não me perguntam eu sei, se me perguntam, desconheço. O que é o sertão? Se não me perguntam eu sei, se me perguntam desconheço. O sertão é abstrato ou real como o tempo. E continuará sendo tema para a literatura. O sertão é um espaço de memória confundido com o urbano. É o melhor lugar do mundo para acessar a Internet, porque as Lan Houses cobram apenas cinquenta centavos por hora. Galileia trata dessas idas e vindas, mergulhos e retornos nesse mundo suburbano chamado sertão. Sou inteiramente aberto às influências. Não estou nem aí para qualquer tipo de fidelidade.”


Para Antônio Gonçalves Filho, crítico do jornal O Estado de São Paulo, o modo de construção de Ronaldo Correia Brito em “Galileia” é cinematográfico. “Econômico, conciso, cortante, ele reúne os fragmentos da tradição oral e ergue uma catedral literária com os cacos da ruína sertaneja e da tragédia clássica”, destaca.


Em “Galileia”, três primos realizam uma visita emocional ao sertão, numa atmosfera que lembra, em certos momentos, um possível contato recente que se tenha feito com a obra de Khaled Hosseini, “O Caçador de Pipas”. Com o livro nas mãos ou na frente da tela grande: perspectivas, não mais do que isso, pers-pec-ti-vas de uma visibilidade emprestada.

por André Ferrer

domingo, 19 de julho de 2009

COLABORADORES: Impressões de apreensões matinais, nesta poesia de Rafael de Castro Caetano

"Menção Honrosa em concurso literário, 'Travessa Aber Cintra Às 5h' parece evocar a inexistência e a superexistência que antecede mais um dia. Toda a sensação de derrota dos insones em face das obrigações iminentes. Toda a disposição daqueles que dormiram o sono restaurador. Enfim, algo que a obra do pintor norteamericano Edward Hopper também representa em vários momentos. 'Night Shadows', gravura de 1921, é um exemplo desse clima transitório de luz, temperatura e disposição do espírito humano." Travessa Aber Cintra às 5h
M
Cinco casas sem rua
- meio-filete escorre caldo & suado -,
ressecam na alvorada.
(muitos rangeres, & descarnados decibéis).
Cinco gorjeios imitam o trilo,
em voz,
de (rentinhas) manjedouras mirradas.
M

Galos ocultos, cinco
(à direita, à esquerda,
no fundo, acima; o ar
é um vago palanque)
Ciscam barro & asfalto.
Cinco & mais favelas tortas;
‘pontadas;
cerviz da cidade.
Fraca, fraco-fraquinha,
uma lâmpada de atitude,
suspensa a palmos na área.
por Rafael de Castro Caetano

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Copyleft: “Travessa Aber Cintra Às 5h”, de Rafael de Castro Caetano, jornalista, membro correspondente da Academia de Letras Ciências e Artes de Bandeirantes (ALCAB), Menção Honrosa no IX Concurso de Poesia Professora Therezinha Dutra Megale, Associação de Escritores de Bragança Paulista (Ases). “Night Shadows”, gravura de Edward Hopper (1882-1967), página do MoMA (The Museum of Modern Art, Nova York). Se este ou outros textos da web te interessar, utilize, mas não reproduza sem o devido crédito ao autor. Respeite sempre os direitos autorais de conteúdos, imagens e softwares! Isto é Copyleft!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

COLABORADORES: Carmen Bentes e os seus Templários

"'TEMPLÁRIOS' é o texto que Carmen Bentes, nossa colaboradora do Rio de Janeiro, enviou para A iNVERNADA. CONFIRA!"


CLIQUE Carmen Bentes na coluna à direita em COLABORADORES.

domingo, 5 de julho de 2009

AS MINHAS LENTES CARTESIANAS

“Com o aumento da presença dos livros no dia-a-dia, principalmente entre os jovens, a nação brasileira só tem a ganhar em termos de poder participativo nas questões políticas e sociais. Da autodefesa diante de um gerente de banco simpático, mas ávido por comissões, à limpeza ética e moral do Senado; em todos os níveis: uma revolução!”

Dados importantes a respeito do hábito da leitura foram divulgados em maio. Esse trabalho do Ibope teve como foco de estudo o comportamento, gosto e preferência dos leitores. Segundo a pesquisa, a média de livros lidos pelo brasileiro é de quatro livros por ano e aqueles que mais lêem na pátria dos analfabetos funcionais são os jovens. Há oito anos, a população lia, em média, dois livros por ano, isto é, a metade do que supostamente lê hoje.

O termo analfabetismo funcional é comumente empregado para designar a deficiência de alguns indivíduos na interpretação de textos. Segundo Luke Castells e MacLennan (1986), “o termo foi cunhado nos Estados Unidos na década de 30 e utilizado pelo exército norte-americano durante a Segunda Guerra, indicando a capacidade de entender instruções escritas necessárias para a realização de tarefas militares.” A partir de então, de acordo ainda com os dois autores, “o termo passou a ser utilizado para designar a capacidade de utilizar a leitura e escrita para fins pragmáticos, em contextos cotidianos, domésticos ou de trabalho, muitas vezes colocado em contraposição a uma concepção mais tradicional e acadêmica, fortemente referida a práticas de leitura com fins estéticos e à erudição.” Ou seja: o analfabeto funcional é incapaz de interpretar textos simples como relatórios comerciais, manuais de instruções (em português) e editoriais da imprensa escrita. Contratos bancários e Machado de Assis, então, nem se fala!

No Brasil, dados recentes do Instituto Paulo Montenegro, ligado ao Ibope, apontam que o analfabetismo funcional atinge cerca de 75% da população, ou seja, somente 25% da população é alfabetizada plenamente. Isso se deve à baixa qualidade dos sistemas de ensino (tanto público, quanto privado), ao baixo salário dos professores, à falta de infra-estrutura das instituições de ensino e à falta do hábito da leitura do brasileiro. Em alguns países desenvolvidos, como é o caso da Suécia, esse índice é inferior a 10%.

A pesquisa “Retratos da Leitura do Brasil”, uma encomenda do Instututo Pró-Livro para o Ibope, ouviu pessoas a partir dos cinco anos de idade e mostra que o número de leitores vem crescendo devagar: 55% da população entrevistada afirmou ter lido um livro nos últimos três meses. 39% dos 59,6 milhões de leitores de livros no Brasil, segundo a pesquisa, estão na faixa etária de 5 a 17 anos e outros 14% possuem entre 18 e 24 anos. De fato, muito promissor.

Com o aumento da presença dos livros no dia-a-dia, principalmente entre os jovens, a nação brasileira só tem a ganhar em termos de poder participativo nas questões políticas e sociais. Da autodefesa diante de um gerente de banco simpático, mas ávido por comissões, à limpeza ética e moral do Senado, apenas com senso crítico e embasamento argumentativo vigorosos dizimaremos o câncer da corrupção. Em todos os níveis: uma revolução. Algo sem precedentes no país do Sarney, esse latifundiário imortal dos Lençóis Maranhenses!

Rezo para que isso aconteça um dia. Rezo, mas não enublo a minha fé que, por umas e outras, em vez de cega, usa os óculos do René Descartes.

E como ser diferente neste país?! Veja só isto aqui: o “retrado” do Ibope sobre a leitura do brasileiro não serviu apenas para afrontar essa minha esperança, mas também aumentou em muito os graus das minhas lentes cartesianas.

Segundo a pesquisa, enquanto 90% dos leitores adultos com mais de 40 anos de idade preferem ler em locais silenciosos, muitos jovens com idade entre 14 e 17 anos dizem que gostam de ler ouvindo música. Já 14% das crianças com menos de 10 anos, curtem os livros ao mesmo tempo em que assistem à TV. Cá entre nós, quem é que lê produtivamente na companhia do Faustão e do iPod?

por André Ferrer

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Créditos de conteúdo: g1, Wikipédia, O analfabetismo funcional na cidade de São Paulo (Haddad, Sérgio) . Créditos de imagem: fotograma do filme “A História Sem Fim” (The Neverending Story), Alemanha, EUA, 1984, direção de Wolfgang Pertensen, baseado no livro homônimo de Michael End. Se este ou outros textos da web te interessar, não reproduza sem o devido crédito ao autor. Respeite sempre os direitos autorais de conteúdos, imagens e softwares!


sábado, 4 de julho de 2009

LIBERDADE REAL

"As tecnologias relacionadas à informação vieram para ficar e, de fato, elas têm muito a contribuir na luta contra a desigualdade social e no processo de aproximação dos povos."Velocidade, compartilhamento instantâneo de imagens e sons, tudo muito limpo, claro e polido como arroz tipo 1. Neste universo de facilidades, é natural que meninos e meninas não leiam. E por que seria diferente na delicada relação entre o jovem e a informação se a lei do menor esforço é capaz de drenar o planeta e originar oceanos imensos?!
M
O livro não facilita. Os iniciantes preferem a tevê. Na tela do computador, uma imagem tem a força de um milhão de páginas.
M
O livro, por sua vez, é trabalho. Toda a beleza e encanto apregoados pelos seus amantes mais radicais não aparecem num “clique”. Sendo assim, “miguxo”, nada como um “mouse” para “superdetonar” essa “parada sinistra”! Etapas queimadas com a ponta de um dedo.
M
Mas o avanço não avança só. Paralelo a ele, correm necessidades próprias de um mundo moderno e competitivo. Afinal de contas, que decisão tomará uma pessoa pouco habituada à decifração de textos? No campo sócio-político, por exemplo, a reflexão do cidadão comum é cada vez mais necessária e nula.
M
Símbolos de liberdade e poder, as tecnologias relacionadas à informação vieram para ficar e, de fato, elas têm muito a contribuir na luta contra a desigualdade social e no processo de aproximação dos povos. Mas também, para todo aquele que não consegue refletir e se libertar da opinião alheia, elas podem se converter em escravidão. Liberdade e poder maiores e mais autênticos do que a capacidade de compreender o mundo por si mesmo são duas coisas que ainda precisam ser inventadas. Apenas o exercício da leitura de bons textos é capaz de refinar o pensamento.
M
por André Ferrer
M
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Crédito da imagem: Fotocomédia. Se este ou outros textos da web te interessar, não reproduza sem o devido crédito ao autor. Respeite sempre os direitos autorais de conteúdos, imagens e softwares!

Brigitte Bardot - Assista ao vídeo e leia o novo conto do escritor e cartunista Emerson Wiskow

Leia o conto "Brigitte Bardot" de Emerson Wiskow >>>

LEITORES DE A iNVERNADA